Nelson Rodrigues
Com André Sant, Anna, Carlito Azevedo, Aldir Blanc, Veronica Stigger e Suzana Flagg
Editora Nova Fronteira
Não tive oportunidade de estudar a obra de Nelson
Rodrigues. Ao que parece, seu nome não se encontra no cânone da literatura
brasileira. Uma pena!...
A despeito disso, há gente pesquisando sobre o escritor
e sempre há algo de sua obra sendo (re)editado, (re)comentado, (re)apresentado,
afinal, trata-se de uma grande obra e de uma obra grande: os textos de
qualidade, numa linguagem peculiar, estão expressos em peças teatrais, roteiros
para TV e cinema, contos, crônicas e folhetins.
Conheci Nelson Rodrigues pelos textos da telinha.
Vi alguns episódios que foram filmados a partir de suas crônicas e gostei
bastante. Apesar de me surpreender, muitas vezes com a objetividade de sua
linguagem ao tentar mostrar a vida cotidiana.
Em 2012, por ocasião das comemorações do centenário
de nascimento de Nelson Rodrigues, o Festival de Inverno do SESC trouxe a peça
teatral “O beijo no asfalto” para Friburgo. Surpreendentemente interessante,
foi uma experiência bastante diferente para mim.
Ao me deparar, há poucos meses, com o livro
“Cidade”nas prateleiras de uma livraria, não resisti e o comprei. Trata-se de
um livro que começou a ser escrito por Nelson Rodrigues, mas ao qual ele não
pôde dar continuidade devido a problemas de saúde que se agravaram ao final de
sua vida, levando-o à morte no final de 1980.
A Editora Nova Fronteira convidou quatro destaques
da literatura brasileira contemporânea para continuarem a história. O resultado
é sensacional. Uma trama instigante, personagens bem desenhados, final de tirar
o fôlego.
Vale a pena a leitura!
“Caiu num silêncio sombrio e obstinado, lançando à
irmã olhares furtivos e medrosos. Ela, por sua vez, sentia uma angústia
nascente. Inquietava-se, prevendo que aquele encontro lhe faria mal.
- Vês? – falou Claudio numa voz sumida. – Ainda
agora não sofria e agora sofro.
Continuou, sem olhar para a irmã:
- Às vezes, penso que vou ficar louco.
Tinha na boca uma prega de ferocidade. Mas – coisa
estranha – a hipótese da loucura, longe de apavorá-lo, deleitava-o
inexplicavelmente.”
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