QUERIA VER VOCÊ FELIZ
Adriana Falcão
Editora Intrínseca
Adriana Falcão é uma de minhas autoras
contemporâneas favorita. Sua linguagem clara e bela, tratando de assuntos do
cotidiano, recheados pelos sentidos que são construídos por cada um de nós
diante das experiências da vida, me fascina. Quisera eu saber falar sobre a
realidade de um modo tão simples e, ao mesmo tempo, profundo, como Adriana o
faz.
Vi uma breve entrevista sua sobre seu
mais recente trabalho, lançado em outubro de 2014, e me senti intrigada a conhecê-lo. No sábado, deparei-me
com esse livro na estante de uma livraria e logo o reconheci. Comprei-o e o li
em 24 horas. Intenso!
“Queria ver você feliz” tem como
narrador o Amor, que assim se apresenta:
“Não tenho sexo. Não tenho corpo.
Não
sou mortal nem imortal, visto que morro mas renasço, e volto a morrer e a renascer
até o infinito.
Sou um teimoso. Há quem tente me prender, há quem tente me
entender, há quem tente me explicar,
nada disso é muito fácil.
(...)
Há quem me chame de Eros, Kama, Philea,
Ahava, há quem me chame de Amor, há quem me chame de Love.
Como ter certeza de que eu sou eu de
verdade?
Dou minha palavra.” (p.9)
O livro conta a história de como o Amor atingiu
e uniu o casal Maria Augusta e Caio – personagens não fictícios, pais de
Adriana Falcão. Entremeando e dando sentido à narrativa, estão as cartas de
amor que os dois trocaram durante o período de namoro (que, por muito tempo,
foi proibido), noivado, e após o casamento, em virtude das viagens que Caio
fazia a trabalho e, em dado momento, no tempo em que Maria Augusta esteve
internada num hospital psiquiátrico, após o nascimento da segunda filha.
Dedicados a fazerem um ao outro feliz, empenhados
em que sua relação desse certo, Maria Augusta e Caio fizeram promessas e juras
de amor eterno, fielmente cumpridas. Só a morte foi capaz de separar o casal,
que viveu intensamente as agruras de suas personalidades marcantes e temperamentos
um tanto conturbados (ela, intensamente ansiosa; ele, profundamente
melancólico). Mas, como diz o narrador, em determinando momento da história:
“Serão mesmo normais as pessoas ditas
normais? O que é normal e o que não é?
Qual a diferença entre um sanatório e
uma repartição pública?
(...)
As pessoas não são normais, concluo.
Que sorte a minha.” (pp.. 118-119)
Parte da resenha publicada no site da editora
diz o seguinte:
“Angústia, melancolia, saudade, ira,
ciúmes, carinho, prazer, solidão, ansiedade – todos esses sentimentos eram
exacerbados e muitas vezes descabidos. No final das contas, o leitor percebe
que Maria Augusta era, sim, impulsiva e dramática ─ apenas para citar duas
características de uma mulher cheia de camadas ─, mas que o seu desejo sempre
foi fazer Caio feliz. E vice-versa.”
Continuo sentindo o livro... Por sua beleza,
expressa em alegrias e tristezas. Não é um livro para qualquer momento. Mas é
um livro, certamente, para ser relido.
Finalizo, trazendo novamente as palavras de Amor:
“Sou um sentimento sublime. Posso ser
largo, livre alegre.
Não exerço domínio sobre quem ama. E tem mais: nem todo
coração tem a honra de me receber,
não bato em qualquer porta, sou seletivo.
Uma dica para quem tiver a sorte de me
encontrar: me trate como uma flor. Então, aproveite.” (p. 81)