domingo, 16 de setembro de 2012

Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias


Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias
Ruth Rocha
Editora Salamandra
Ilustrações de Mariana Massarani

Quando falamos em clássicos, geralmente deixamos de lado a literatura infantil. Mas há clássicos para as crianças também, com certeza. E (re)encontrá-los é importante para não deixar que se percam – clássicos devem ser ETERNOS!
Tenho ido em busca de livros que encheram a minha infância de alegria e prazer, cuja lembrança me emocionam ainda hoje. Quero ler esses livros para meus filhos e fazê-los conhecer esses clássicos que, a despeito de terem sido escritos há tanto tempo, continuam atuais.
Uma das obras que incluo nessa categoria é “Marcelo, marmelo, martelo”, de Ruth Rocha. O livro se inicia com o texto homônimo e depois traz mais duas histórias – “Teresinha e Gabriela” e “O dono da bola”. As três histórias revelam bem o universo infantil, com suas descobertas, encontros e conflitos. É uma graça!
Encontrei o livro na livraria esse final de semana, de cara nova, em edição recente, com ilustrações divertidas de Mariana Massarani. Adorei!
O primeiro texto, confesso, é o meu preferido. A história do menino que não entende a arbitrariedade do signo lingüístico e deseja nomear autonomamente as coisas é muito interessante. Trata-se de uma indagação humana diante das convenções. Dá uma boa aula de Filosofia da Linguagem – afinal, um bom livro infantil é que aquele que agrada também aos adultos.
Um gostinho:
“E Marcelo continuou pensando:
‘Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim.’”

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A queda – As memórias de um pai em 424 passos


“A queda – As memórias de um pai em 424 passos”, Diogo Mainardi - Editora Record, 2012

No final de semana, li o texto de Lya Luft, na revista Veja, sobre o novo livro de Diogo Mainardi. Não gosto dele, por questões políticas. Seu humor seco e irônico me irritam.
O texto de Lya Luft, porém, me aguçou a curiosidade de ler o livro que, segundo a ela, a emocionou profundamente.
Hoje, dentro de uma livraria, tendo de aguardar por meia hora uma pessoa com quem eu havia marcado encontro, resolvi pedir o livro. Curiosa, comecei a lê-lo. Quando a pessoa chegou, eu estava na página 41 e decidida a ler até o final. Comprei o livro.

Trata-se de uma narrativa autobiográfica sobre seu filho mais velho, nascido no ano 2000, que teve paralisia cerebral, em decorrência de seguidos erros médicos no seu parto. Essa paralisia deixou o menino Tito sem falar, andar e mover-se nos primeiros anos de sua infância. E mudou a vida de seus pais.
O tom do livro é o mesmo humor seco e irônico de sempre. Como sempre também, a história é cheia de referências culturais importantes sobre Arte, com destaque especial para as obras arquitetônicas de Veneza, local onde Tito nasceu.
Em pouca coisa parecido com um romance, o livro se divide em 424 pequenos capítulos, alguns dos quais com apenas duas linhas. O número se refere à quantidade de passos que Tito é capaz de dar sem cair.
Por causa das constates quedas, que fazem parte de sua vida, desde a queda maior, quando foi feito o primeiro procedimento errado no seu nascimento, o título é “A queda”.

Mas a queda não é só de Tito. Que, pelo conta a história, acha graça dos próprios tombos.
A queda principal, nos conta Diogo, foi a dele mesmo. Queda do lugar onde estava até a chegada de seu primeiro filho. Na sua própria voz: “Eu sou a formiga de Tito. Suas quedas recordam-me permanentemente da precariedade e da transitoriedade de tudo o que eu tentei construir.”
Pequenas reflexões como essa estão presentes em vários momentos do livro. São duras pela realidade que exprimem. Mas de grande sensibilidade, na voz de um pai que ama seu filho e que lhe quer todo o bem.

“Quando vi Tito na incubadora, no dia de seu nascimento, compreendi que o amaria e o acudiria para sempre.
De lá para cá, nada mudou.
Eu o amarei para sempre. Eu o acudirei para sempre.”