quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sobre o Amor e modos de amar

QUERIA VER VOCÊ FELIZ
Adriana Falcão
Editora Intrínseca

Adriana Falcão é uma de minhas autoras contemporâneas favorita. Sua linguagem clara e bela, tratando de assuntos do cotidiano, recheados pelos sentidos que são construídos por cada um de nós diante das experiências da vida, me fascina. Quisera eu saber falar sobre a realidade de um modo tão simples e, ao mesmo tempo, profundo, como Adriana o faz.
Vi uma breve entrevista sua sobre seu mais recente trabalho, lançado em outubro de 2014,  e me senti intrigada a conhecê-lo. No sábado, deparei-me com esse livro na estante de uma livraria e logo o reconheci. Comprei-o e o li em 24 horas. Intenso!
“Queria ver você feliz” tem como narrador o Amor, que assim se apresenta:
“Não tenho sexo. Não tenho corpo. 
Não sou mortal nem imortal, visto que morro mas renasço, e volto a morrer e a renascer até o infinito. 
Sou um teimoso. Há quem tente me prender, há quem tente me entender, há quem tente me explicar, 
nada disso é muito fácil.
(...)
Há quem me chame de Eros, Kama, Philea, Ahava, há quem me chame de Amor, há quem me chame de Love.
Como ter certeza de que eu sou eu de verdade?
Dou minha palavra.” (p.9)

O livro conta a história de como o Amor atingiu e uniu o casal Maria Augusta e Caio – personagens não fictícios, pais de Adriana Falcão. Entremeando e dando sentido à narrativa, estão as cartas de amor que os dois trocaram durante o período de namoro (que, por muito tempo, foi proibido), noivado, e após o casamento, em virtude das viagens que Caio fazia a trabalho e, em dado momento, no tempo em que Maria Augusta esteve internada num hospital psiquiátrico, após o nascimento da segunda filha.
Dedicados a fazerem um ao outro feliz, empenhados em que sua relação desse certo, Maria Augusta e Caio fizeram promessas e juras de amor eterno, fielmente cumpridas. Só a morte foi capaz de separar o casal, que viveu intensamente as agruras de suas personalidades marcantes e temperamentos um tanto conturbados (ela, intensamente ansiosa; ele, profundamente melancólico). Mas, como diz o narrador, em determinando momento da história:
“Serão mesmo normais as pessoas ditas normais? O que é normal e o que não é? 
Qual a diferença entre um sanatório e uma repartição pública?
(...)
As pessoas não são normais, concluo.
Que sorte a minha.” (pp.. 118-119)

Parte da resenha publicada no site da editora diz o seguinte:
“Angústia, melancolia, saudade, ira, ciúmes, carinho, prazer, solidão, ansiedade – todos esses sentimentos eram exacerbados e muitas vezes descabidos. No final das contas, o leitor percebe que Maria Augusta era, sim, impulsiva e dramática ─ apenas para citar duas características de uma mulher cheia de camadas ─, mas que o seu desejo sempre foi fazer Caio feliz. E vice-versa.”

Continuo sentindo o livro... Por sua beleza, expressa em alegrias e tristezas. Não é um livro para qualquer momento. Mas é um livro, certamente, para ser relido.
Finalizo, trazendo novamente as palavras de Amor:

“Sou um sentimento sublime. Posso ser largo, livre alegre. 
Não exerço domínio sobre quem ama. E tem mais: nem todo coração tem a honra de me receber, 
não bato em qualquer porta, sou seletivo.
Uma dica para quem tiver a sorte de me encontrar: me trate como uma flor. Então, aproveite.” (p. 81)