domingo, 30 de junho de 2013

O sertão no meu sangue

Gonzaguinha e Gonzagão - uma história brasileira, Regina Echeverria
Ediouro, 2006

Sou fã de Gonzaguinha e de Gonzagão. Do primeiro, gosto das letras profundas e das melodias marcantes. Conheço vários sucessos. Do segundo, amo o sotaque e o linguajar nordestinos.
No ano passado, comemorou-se o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga. Pude, por questões profissionais, pesquisar sobre sua vida, descobrir músicas suas que eu conhecia e não sabia que eram de sua autoria, e prestar mais atenção a essa personalidade brasileira.
Nas férias, assisti à série da TV em sua homenagem e não resisti a ler o livro. História sofrida, de quem abandona sua terra em busca de melhores condições de vida. História de quem vai atrás de um sonho, mas que jamais abandona os seus.
Triste, mas bela, a história de pai e filho. História de gente, como tantas gentes, que se desencontram e se reencontram, felizmente.
História da música brasileira e daqueles que inovam, buscando a 'alma' dessa música e não simplesmente trazendo novidades. É algo que fica, que deixa marca.

Bom livro. E recomendo as músicas de ambos - Gonzaguinha e Gonzagão.

sábado, 29 de junho de 2013

Sobre liderança e sonho

Conversas que tive comigo, Nelson Mandela
Editora Rocco, 2012

Lembro-me até hoje da primeira vez em que ouvi falar sobre Nelson Mandela. Foi numa aula de Geografia, no Ensino Fundamental, no Colégio Canadá. A professora Maria do Carmo Nader levou para a turma um texto de Desmond Tutu, publicado na revista Veja, sobre o apartheid. Ele explicava um pouco sobre o regime e enaltecia o nome de Mandela, que estava na prisão naquela época.
Em 2010, tive a oportunidade de ver um belo filme sobre a vida de Mandela e, trabalhando-o com uma turma de 8o ano, acabei pesquisando sobre sua vida. Fiquei impressionada com o vigor e a determinação desse homem.
No ano passado, por um motivo muito especial, presenteei alguém muito amado com a obra "Conversas que tive comigo". E, meses depois, tive a oportunidade de ler o livro.
Trata-se de cartas, bilhetes, registros de diário e entrevistas, antes, durante e depois que Mandela esteve na prisão. É uma coletânea que revela seus pensamentos sobre política, vida em família, humanidade, religião.
Minha admiração por esse personagem da história mundial só fez crescer. Primeiro, porque Nelson Mandela é um exemplo de persistência e perseverança. Segundo, porque, nesses relatos, permitiu-se deixar ser revelado seu lado humano, na expressão de suas emoções: embora lutando uma luta coletiva, com ideais grandiosos, teve seus momentos individualistas, em que prevaleceram características de seu temperamento que, talvez, preferisse guardar para si. Mas ali não estava apenas a personalidade; estava, também - e acima de tudo, eu diria - a pessoa.

Uma boa leitura para aqueles que desejam ser líderes. Uma boa leitura para aqueles que têm um ideal.

"Os líderes avaliam que críticas construtivas dentro das estruturas da organização, por mais duras que sejam, são um dos métodos mais eficazes de lidar com problemas internos, de assegurar que as opiniões de cada companheiro sejam cuidadosamente refletidas, e que para que um companheiro manifeste livremente suas opiniões não deve existir temor de marginalização ou, pior ainda, de vitimização.Para qualquer líder é um grande erro ser demasiado suscetível com as críticas, conduzir discussões como se ele ou ela fosse um mestre falando com discípulos menos informados e inexperientes. Um líder deve encorajar e dar boa acolhida a uma troca de ideias livre e irrestrita. "


"Quando estamos tentando chegar a um acordo através de negociações, discursos inflamados não são indicados. O que se quer é debater os problemas de maneira sóbria. As massas gostam de ver alguém que seja responsável e que fale de maneira responsável. Não quero incitar a multidão. Eu quero que o povo compreenda o que estamos fazendo e quero infundir nele um espírito de reconciliação. Eu amadureci e me abrandei. Quando era jovem eu era muito radical, usava uma linguagem exaltada, lutava contra todo mundo. Mas agora a gente quer liderar e um discurso para inflamar o povo não é apropriado. "

A mulher que escreveu a Bíblia

A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar
Companhia das Letras, 2004

O livro "A mulher que escreveu a Bíblia", de Moacyr Scliar ficou durante anos em minha estante. Acabei comprando um dia, porque meu companheiro tem formação em Teologia, mas o livro ficou esquecido entre tantos outros.
No ano passado, não sei bem quando, decidi lê-lo. Qual não foi minha surpresa com a beleza das primeiras páginas. Que identificação! A'mulher que escreveu a Bíblia', narrador-personagem da história, havia aprendido a ler de forma encantadora. Reconheci, no seu amor pela descoberta das palavras, o meu próprio amor pela escrita. O professor, o escriba da aldeia em que se ambienta a história, foi um verdadeiro mestre para ela. E me reconheci no papel daquele que ensina a ler, como fiz durante dez anos da minha vida - uma das experiências mais felizes e gratificantes que guardo, mais que no meu currículo, em minha memória.
Quando fui realizar meu primeiro Café Literário, em setembro de 2012, não pude escolher outro senão este texto. Instigante, poético, simbólico. Sobre aprender a ler a palavra e, consequente e inevitavelmente, o mundo. Sobre ensinar e o efeito que isso causa em quem aprende. Entre uma reunião pedagógica e outra, não resisti a levar o texto às minhas colegas.

O livro não fica por aí. Com certo humor, e boa dose de ironia, leva a personagem ao harém de Salomão e a ter a tarefa de escrever a Bíblica. Divertido e crítico, a história agrada. O texto, que mistura trechos bíblicos conhecidos com uma linguagem atual, informal e bem direta, é bastante interessante.
Uma dica para quem deseja algo leve, mas nada rasteiro.

"O que eu via, no pergaminho, quando terminava o trabalho, era um mapa, como os mapas celestes que indicavam a posição das estrelas e planetas, posição essa que não resulta do acaso, mas da composição de misteriosas forças, as mesmas que, em escala menor, guiavam a minha mão quando ela deixava seus sinais sobre o pergaminho. Agora minha vida tinha um sentido, um significado: feia, eu era, contudo, capaz de criar beleza. Não a falsa beleza que os espelhos enganosamente refletem, mas a verdadeira e duradoura beleza dos textos que eu escrevia, dia após dia, semana após semana - como se estivesse num estado de permanente e deliciosa embriaguez."