Acabei me rendendo a mais uma autobiografia. A autora me
chamou a atenção por ser uma jornalista, cuja escrita já havia me impressionado
em duas ou três de suas crônicas.
O formato do livro e o que dizia na capa: “De quantos
nascimentos e mortes se constitui uma vida? De quantos partos uma precisa para
nascer? Com quantas palavras se faz um corpo?” me convenceram por completo.
Cento e quarenta e duas páginas lidas em dois dias (em meio
a trabalho, estudo, filhos, marido). Um furacão de pensamentos e sentimentos.
Uma tristeza ao chegar ao fim e o desejo de iniciar o livro novamente.
Eliane escreve sobre si mesma, relatando fatos, de uma forma
diferente das biografias em geral. O fato é um detalhe para falar de si mesma,
de sua identidade, de sua construção pessoal. Não há avaliações nem lições;
apenas uma franqueza inacreditável e um talento admirável para lidar com as
palavras.
“Escrevo para não morrer, mas escrevo também para não matar.”
(p. 70)
Família, política, religião, educação escolar – o livro
passeia sobre tudo, com algumas passagens divertidas e todas muito
interessantes. E uma reflexão constante, insistente e profunda sobre Ser. E sobre como as palavras fizeram a autora Tornar-se.
"Pela palavra escrita eu tornava-me capaz de transcender o concreto, transformar impotência em potência. Fui salva pela palavra escrita quando comecei a ler - e(talvez) em definitivo quando escrevi. E - importante - quando fui lida." (p.110)
Um livro que dói na gente... Que faz pensar sobre como nos (des/re)construímos desde a infância e por toda a vida.