sábado, 29 de junho de 2013

A mulher que escreveu a Bíblia

A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar
Companhia das Letras, 2004

O livro "A mulher que escreveu a Bíblia", de Moacyr Scliar ficou durante anos em minha estante. Acabei comprando um dia, porque meu companheiro tem formação em Teologia, mas o livro ficou esquecido entre tantos outros.
No ano passado, não sei bem quando, decidi lê-lo. Qual não foi minha surpresa com a beleza das primeiras páginas. Que identificação! A'mulher que escreveu a Bíblia', narrador-personagem da história, havia aprendido a ler de forma encantadora. Reconheci, no seu amor pela descoberta das palavras, o meu próprio amor pela escrita. O professor, o escriba da aldeia em que se ambienta a história, foi um verdadeiro mestre para ela. E me reconheci no papel daquele que ensina a ler, como fiz durante dez anos da minha vida - uma das experiências mais felizes e gratificantes que guardo, mais que no meu currículo, em minha memória.
Quando fui realizar meu primeiro Café Literário, em setembro de 2012, não pude escolher outro senão este texto. Instigante, poético, simbólico. Sobre aprender a ler a palavra e, consequente e inevitavelmente, o mundo. Sobre ensinar e o efeito que isso causa em quem aprende. Entre uma reunião pedagógica e outra, não resisti a levar o texto às minhas colegas.

O livro não fica por aí. Com certo humor, e boa dose de ironia, leva a personagem ao harém de Salomão e a ter a tarefa de escrever a Bíblica. Divertido e crítico, a história agrada. O texto, que mistura trechos bíblicos conhecidos com uma linguagem atual, informal e bem direta, é bastante interessante.
Uma dica para quem deseja algo leve, mas nada rasteiro.

"O que eu via, no pergaminho, quando terminava o trabalho, era um mapa, como os mapas celestes que indicavam a posição das estrelas e planetas, posição essa que não resulta do acaso, mas da composição de misteriosas forças, as mesmas que, em escala menor, guiavam a minha mão quando ela deixava seus sinais sobre o pergaminho. Agora minha vida tinha um sentido, um significado: feia, eu era, contudo, capaz de criar beleza. Não a falsa beleza que os espelhos enganosamente refletem, mas a verdadeira e duradoura beleza dos textos que eu escrevia, dia após dia, semana após semana - como se estivesse num estado de permanente e deliciosa embriaguez."

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